domingo, 28 de fevereiro de 2010

Para tecer o ano novo

Para tecer o ano novo


O início do ano é o momento de avaliar a escola que temos para construir aquela que almejamos

"Se ficarmos alertas, descobriremos que o possível é mais amplo. Muitas vezes, ele tem de ser inventado."


Foto: Marcos Rosa

Se o horizonte da ética é o bem comum, quando procurarmos ir ao seu encontro nas nossas escolas, temos de fazê-lo realizando um trabalho coletivo e solidário.


Sempre que penso nisso, me sinto inspirada por um belo poema escrito por João Cabral de Melo Neto, que se chama Tecendo a Manhã. Ele nos revela que "um galo sozinho não tece uma manhã/ ele precisará sempre de outros galos" e que é preciso cruzar "os raios de Sol dos gritos dos galos/ para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo entre todos os galos". A beleza da metáfora nos leva a pensar no significado do trabalho que desenvolvemos, principalmente no início do ano - momento de retomar projetos, de dar continuidade às propostas e de buscar, às vezes, novos rumos.


É hora de arregaçar as mangas e de se empenhar nas ações, procurando caminhar em direção aos objetivos traçados. Para isso, vale ficar à disposição para ampliar saberes, compartilhar experiências, voltar a atenção para o que acontece ao nosso lado e ao redor, tanto na escola quanto na comunidade. Só assim, o ano pode, realmente, ser chamado de novo. Queremos realizar um trabalho da melhor qualidade. Esse desejo se configura como um ideal de caráter utópico - lembrando que a utopia não é algo impossível de existir, mas que ainda não existe e em cuja construção devemos nos empenhar. O ideal, expresso nos projetos que estamos desenvolvendo, se refere sempre ao que está por vir. Começamos todo dia a escola do amanhã na escola em que estamos hoje.


Temos, então, de considerar o tempo todo o que fazemos e o que temos para confrontar com o que queremos e com o que ainda precisamos construir. Esse trabalho se faz em coro, na harmonização de vozes diferentes, com a regência dos gestores-maestros, que, na escola, têm também a tarefa de cantar com os demais.


O poema de João Cabral ajuda-nos a iluminar o núcleo de nossa reflexão. E eu peço licença ao poeta para ler de um jeito diferente o verso inicial: "Um galo sozinho não tece um amanhã". Porque não se trata do caráter coletivo de uma construção qualquer. Estamos pensando na criação do amanhã da escola para que ela seja melhor do que a que temos hoje. Porque ainda não temos a escola que desejamos e isso significa que há sempre possibilidade de nos mobilizarmos para construí-la.


Os gestores precisam estar atentos a uma afirmação com a qual nos deparamos com frequência: "Estamos fazendo o possível". Se ficarmos alertas, descobriremos que o possível é mais amplo do que parece. Muitas vezes, ele tem de ser inventado. E não podemos deixar seu projeto para depois nem pensar nele apenas no início do ano letivo, mas durante o ano novo inteiro.


Terezinha Azerêdo Rios
É professora do programa de pós-graduação da Universidade 9 de Julho, em São Paulo.


Fonte: Nova Escola Gestão Escolar - fev/março 2010

Resultados SARESP/IDESP

Foi publicado o resultado geral do SARESP 2009.
Em geral, houve um aumento nos índices no estado, superando a meta do IDESP para o ano.
Para saber mais, acesse o link abaixo e veja os gráficos com os resultados por modalidade e disciplina.

http://www.educacao.sp.gov.br/noticias_2010/2010_26_02_idesp_saresp.pdf

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cursos

A Casa do Saber, com filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo disponibiliza cursos para professores em diversas áreas como Literatura, Filosofia, Artes, Psicologia, Fotografia, Cinema, entre outros.
Para acessar o guia completo da programação entre no link abaixo e veja os cursos que acontecerão durante este semestre.

http://www.casadosaber.com.br/_cdssp/2010/Programacao_completa.pdf

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Trabalhando matemática através da literatura


Recado de fantasma
Conto de Flavia Muniz
Um conto fantasmagórico inspira uma lição sobre alguns conceitos básicos da disciplina: números, frações, medidas de tempo, estimativas, cálculos...
Tudo começou quando nos mudamos para aquela casa. Era um antigo sobrado, com uma grande varanda envidraçada e um jardim. Eu me sentia tão feliz em morar num lugar espaçoso como aquele, que nem dei atenção aos comentários dos vizinhos, com quem fui fazendo amizade. Eles diziam que a casa era mal-assombrada. Alguns afirmavam ouvir alguém cantando por lá às sextas-feiras.
· Deve ser coisa de fantasma! - falavam.
· Se existe, nunca vi! - E então contavam a eles que as casas antigas, como aquela, com revestimentos e assoalho de madeira, estalam por causa da mudança de temperatura. Isso é um fenômeno natural - conforme meu pai havia me explicado. Mas meus amigos não se convenciam facilmente. Apostavam que mais dia, menos dia eu iria levar o maior susto.
Certa noite, três anos atrás, aconteceu algo impressionante. Meus pais haviam saído e eu fiquei em casa com a minha irmã, Beth. Depois do jantar, fui para o quarto montar um quebra-cabeça de 500 peças, desses bem difíceis. Faltava um quarto para a meia-noite. Eu andava a procura de uma peça para terminar a metade do cenário quando senti um ar gelado bem perto de mim. As peças espalhadas pelo chão começaram a tremer. Vi, arrepiado, cinco delas flutuar e depois se encaixar bem no lugar certo. Fiquei tão assustado que nem consegui me mexer. Só quando tive a impressão de ouvir passos se afastando é que pude gritar e sair correndo escada abaixo.
Minha irmã tentou me acalmar, dizendo que tudo não passava de imaginação mas eu insisti e implorei que ela viesse até o quarto comigo. Uma segunda surpresa me esperava: o quebra-cabeça estava montado, formando a imagem de uma casa com um jardim bem florido. No entanto, meu Jogo formava o cenário de uma guerra espacial, eu tinha certeza!
No dia seguinte, fui até a biblioteca pesquisar o tema. Eu e Beth encontramos dúzias de livros que tratavam de fatos extraordinários e aparições. E a explicação para eventos desse tipo foi a seguinte:
Espaço reservado para a imaginação da turminha
Hoje minha casa tem o jardim mais bonito da rua. Centenas de lindas margaridas brancas florescem a maior parte do ano (para total espanto da vizinhança). O fantasma? Nunca mais vi. Decerto passeia feliz pelo jardim, nas noites de lua cheia.
Matemática? Não tem terror!
Uma aula de Matemática baseada num conto de terror? Parece estranho, não é mesmo? Ainda mais para quem se acostumou a pensar nessa área como um território quase que exclusivo dos números. No entanto, já faz algum tempo que diferentes pesquisadores vêm propondo o uso de diferentes tipos de texto nas aulas da disciplina. Em qualquer setor do conhecimento, a leitura deve possibilitar a compreensão de linguagens diversas, de modo que os estudantes adquiram mais autonomia na aprendizagem.
O conto de Flávia Muniz, além de tratar de um tema que fascina os alunos das séries iniciais, está repleto de termos e informações que permitem abordar vários conceitos matemáticos, bem como desenvolver habilidades de leitura e interpretação de textos. Acompanhe a seguir o roteiro desenvolvida por Kátia Stocco Smole, coordenadora do grupo Mathema, de São Paulo.
Matemática
Tema: números, tratamento da informação, medidas de tempo, resoluções de problemas
Objetivos: aprender a ler informações matemáticas num texto; resolver problemas; calcular frações de quantidade discreta e frações de tempo; realizar estimativas; fazer cálculos utilizando noções de dúzia e centena; compreender que o uso de termos matemáticos em um texto permite criar efeitos de sentido.
Dica: o trabalho pode exigir de 3 a 8 aulas. Durante as atividades, incentive a discussão de diferentes idéias, das respostas e soluções encontradas pelos alunos. Garanta também que eles registrem no caderno as conclusões que tirarem e as descobertas que realizarem.
Para ler matemática
Divido os alunos em pequenos grupos e peço que leiam o conto - ou leia com eles. Procure primeiro explorar os aspectos lingüísticos e a narrativa como um todo (veja as sugestões para Língua Portuguesa no quadro e comece por eles). Feito isso, sugira que todos procurem no texto as palavras e expressões que podem ser relacionadas à Matemática. Observe que há números naturais, fracionários, ordinais, formas de contagem e agrupamento, medidas de tempo e noções de adição e subtração. Ajude-os a elaborar uma listagem e incentive-os a escrever outras frases com os termos encontrados. Isso é uma forma de ensinar a ler Matemática.
Volte ao trecho que fala sobre "dúzias de livros” e pergunte: sobre que assunto devem ser os livros? O que a autora quis dizer com dúzias? Discuta a sentido metafórico da frase e explique coma a idéia de dúzia serviu para criar um efeito de exagero, um sentido de grande quantidade. Então, proponha que a turminha identifique no texto outra passagem em que isso acorre ("centenas de margaridas”). Encomende uma pesquisa sobre outras expressões que usamos quando ignoramos a quantidade exata mas queremos dar a impressão de abundancia. Par exemplo: pilhas de livros; montanhas de tarefas; um mundo de possibilidades.
Aproveite para apresentar problemas ligados ao conto:
· Tome a frase "Certa noite, três anos atrás, aconteceu algo impressionante”. Supondo que o texto tenho sido escrito em 2002, pergunte em que ano esse “algo impressionante” ocorreu. A leitura do texto permite saber que ele foi escrito em 2002? Por que ?
· Destaque o trecho “Faltava um quarto paro meia-noite” e questione: que horas eram exatamente quando o narrador sentiu um ar gelado? Retome a leitura de horas e lembre as formas pelas quais podemos expressar noções de tempo. O que mudaria no texto se em vez de um quarto paro meia-noite a autora escrevesse um quarto após a meia-noite? O texto teria o mesmo efeito se a ação se posasse faltando um quarto para meio-dia?
· Se o quebra-calbeças era de 500 peças e faltava apenas uma para completar metade do cenário, quantas delas já haviam sido colocadas em seus lugares? Depois que as cinco peças flutuaram e foram encaixadas, quantas ficaram no jogo? Naquele momento, quantas peças ainda faltavam para completar o quebro-cabeça ?
Outra possibilidade é estimular a classe a dar um nome ao fantasma e a criar problemas com novas aventuras protagonizados por ele. Os problemas devem ser formulados em duplas e depois discutidos por todos, podendo até gerar um livro com contos e ilustrações da criançada. A elaboração de problemas coloca o estudante na posição de autor e permite a cada um controlar a própria narrativa, as informações que desejo usar e como elos serão inseridas no texto.
Oriente também a confecção de um gráfico. Diga que na história um suposto fantasma assusta e espanta. O que será que provoca medo na maioria dos alunos da classe? Organize uma pesquisa para responder à pergunta. Com os dados obtidos, leve a garotada a criar uma tabela. Mostre como esses resultados podem ser expressos por meio de um gráfico. Para finalizar, convide todo mundo a produzir um artigo de jornal que seja ilustrado pelo gráfico e inclua as conclusões tiradas da pesquisa.
Para concluir, organize a classe em equipes de quatro alunos e desafie cada um a bolar as regras de um Jogo de percurso baseado no conto de Flávia Muniz. Peço que todos tragam de casa jogogs do gênero. Como são esses brinquedos? Que tipo de regras e obstáculos eles têm? Cada grupo cria um cenário que pode conter partes da história, seus personagens e os sustos vividos. Em seguida, as equipes escrevem os números em pequenos círculos de papel, colam na trilha (respeitando a ordem) e colocam os obstáculos. Depois de redigir as regras numa folha de papel à parte, todos jogam o próprio jogo e o dos colegas.
Preenchendo lacunas
Além de instigar a curiosidade e gelar a barriga, Recado de Fantasma abre espaço para o leitor interagir. Entre os dois últimos parágrafos, há uma lacuna esperando que a turminha desvende os fenômenos misteriosos do enredo. Indique as informações dados pelo narrador sobre o fantasma inclusive no desfecho da história. Sugira que os alunos forneçam explicações que respeitem a lógica do texto. Existe mesmo um fantasma? Quem ele era quando estava vivo? Por que esse estranho personagem trocou a imagem do quebro-cabeça? Qual foi SUa intenção ao fazer as peças do jogo "flutuarem" ?
A imaginação é o limite.
Quer saber mais?
Aprendendo Matemática, César ColI e Ana Teberosky, 264 págs., Ed. Ática
Ler, Escrever e Resolver Problemas: Habilidades Básicas para Aprender Matemática, Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz, 200 págs., Ed. Artmed
Texto publicado na revista NOVA ESCOLA Nº 153 – Junho/Julho - 2002